E ela agarrou suas mãos sabendo que era a última vez.
Olhou em seus olhos, e todo maior sentimento que havia dentro dela, transmitia ao olhos dele... naquele olhar profundo. Ficou minutos olhando aquele belo rosto para não esquecer ... " não posso esquecer sua geografia" ....
Ele segurava suas mãos trêmulas e frias e não entendia o por que , e também não perguntou.
Sabia que algo de errado estava acontecendo ali entre os dois.... e só ela sabia.... também fitou seus olhos com tristeza.
As lágrimas que caíam de seus olhos sem esforço algum, era o sinal da despedida, a insistência de que tudo um dia ficaria bem era ilusão. Eles estavam dizendo adeus. Ela dizia adeus e nem sabia como, e como um trem em desabalado movimento ela revelou tudo.
" Por favor, não me volte a ver, te amo, te quero muito.... cada vez que sinto seu olhar próximo a mim, há algo que me faz tremer e ..não responderei por mim ... Te peço ... não me volte a ver.... Tento, preciso te esquecer é melhor assim ...é melhor sentir essa dor e não tê-lo junto a mim ... Te peço ... não me volte a ver..."- Sentou -se junto a um riacho, deixou os raios do sol iluminar suas lágrimas e continuou... " o que sinto por você é tão grande, que, duvido que qualquer correnteza que arraste uma pedra tenha mais forças que meu amor... duvido que o vento que derruba cada galho daquela árvore tenha mais precisão que meu amor.... por favor, não me volte a ver... nunca mais ...prefiro te perder ... prefiro..."
Em posição maior que ela, ele cabisbaixo entendia, sabia que era certo, mas, entristecia por sua verdade, era hora do adeus sim. Não cabia mais ali explicação alguma. Ela havia tentado , e ele, recebeu todas suas tentativas, mas, não correspondeu e por isso, era necessário aceitar a despedida: ele havia falhado. O coração do jovem rapaz chorava e qualquer retrocesso seria uma ilusão. Ela estava partindo.
Ao levantar, ele olhou seu corpo. Lembrou de quantas vezes estiveram juntos, unidos, lado a lado, pele e boca, o cheiro de seus cabelos cortinaram em seu rosto, os olhos, mesmo vermelhos eram os mesmos que o encantavam, ainda assim, ele não lutaria... ela estava partindo. Enquanto olhava sua amada, não sabia o que seria de sua vida sem ela. Tudo seria diferente,tudo que pode dizer foi " perdoe-me meu erro por te querer ... sei que não eres feliz ao meu lado ... vá... segue sem mim ...- nossas vidas tomaram um rumo que não sei se desejo prá mim ... vá... te amarei ....embora tenha permissão para encarnar, não irei. Não devo ir. Sei que farei sofrê-la novamente. Desgraçadamente não aprendi a amar. Desgraçadamente não aprendi a dividir. Vá sem mim. Não me espere. Não irei ..."
A jovem torceu o rosto, desacreditando naquelas palavras. Partiria sim. Saberia que sua vida seria vazia, mas, ainda assim, iria...não insistiria... e sem mais por que, deu as costas e caminhou pela trilha sem olhar prá trás.
Ele fechou os olhos, e sentiu o pulmão grande, alto, cheio de ar, sedento por um cavalo, por correr pelos pampas e desertos, imaginava em sua cintura a pistola companheira, o cheiro da bebida, as risadas e o céu estrelado ... ainda podia ver a belas mulheres ao seu lado ... era alma de pistoleiro ... era matador, ninguém o encontrava, ninguém o detinha, apertou seu punho, faltava seu violão, lembrou daquele deserto...era sua casa... alguém havia o matado ... lembrara daquele céu negro... ele vestido de negro...lembrara que o procuraram por muito tempo, e a noticia chegou: " Mataram o Cigano Pistoleiro lá no deserto..." o Encontraram com os olhos abertos.... estavam abertos porque a ultima visão que viu foi dela... Sua amada ... por isso, ele não voltaria... Ainda não havia aprendido a amar ... amava a si, amava sua vida de bandoleiro .... ainda ficaria por ali.
Abriu os olhos ... seu mentor olhou de maneira triste, mas compreensível.... ambos lamentavam por ela... de fato, partiria sem ele e ele ficaria com ele mesmo... com sua Alma Cigana ... Seguiram pela mesma trilha e de seus olhos rolaram lágrimas ... de saudades, de amor.... de vida... de ser Cigano ... o abraço do mentor confortou o jovem e a trilha acolheram os dois...